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O barulho dos cegos.

A minha opinião racional diz que ser cego é a pior doença que se pode ter enquanto cá se habita. A ideia de não puder ver o mundo e as pessoas com quem interajo é assustador. Não saber se estão a sorrir para mim ou a fazer-me caretas ou simplesmente se me deixam a falar sozinha porque não estão a prestar atenção. Toda a ideia que tenho da cegueira é triste. 
Entretanto tenho a plena noção que pessoas cegas, não são só cegas. A doença não é a pessoa, a doença é só uma mera característica que a pessoa usufrui  durante a vida terrena. 
Hoje conheci um senhor mas ele não me conheceu a mim. No comboio enquanto eu estava aborrecida com a minha vida e a viagem que nunca mais acabava, estava um senhor em pé, acompanhado por uma senhora e um pau auxiliar de adaptação à vida.  Ao agarrar o barão para se segurar as primeiras palavras que ouço da boca dele foram: "Coitado estou a magoar uma pessoa." Chamou-me à atenção, olhei para os olhos dele que sorriam sem lhes ter conseguido ver a cor. Senti uma total vibração de felicidade na aura dele. Então continuei a ouvi-lo contar piadas à senhora. Observei o resto das pessoas da carruagem, eram pessoas como eu, aborrecidas com a vida em geral a olhar umas para as outras, observar os defeitos físicos sem prenunciar palavras ou sorrisos. Ele continuava ali, a ser o centro das atenções, a certa altura para mim deixou de ser o centro da minha atenção pela cegueira, começou a ser o centro da minha atenção pela sua conversa no meio do silêncio aborrecido das outras pessoas sobre literatura e o Estado Novo. Entretanto fechei os olhos e ele saiu sem que eu desse por isso.
A minha opinião emocional diz que tenho todo o respeito e maior carinho por pessoas com problemas visuais. A forma como sorriem, como mostram interesse na vida, como ligam aos sentimentos como me fazem acreditar que tudo é possível, é maravilhoso, é realmente magico. 
Este senhor não sabe da minha existência, mas obrigada por me ter feito acordar. 

Uma espécie de anjo que chegou e gritou ao meu ouvido sem saber que o fez: "Estas a reclamar exactamente do quê? Vive criatura, mesmo com dificuldades empenha-te enquanto cá estas!"

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